Este texto é para comentar o texto de Muniz Sodré disponibilizado no link
http://observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=554AZL006
Sobre “Diálogos da Perplexidade – Para onde vai o jornalismo”. Por falta de espaço na área específica do blog.
Não creio que uma comparação com a obra de Maimônides seja adequada para o que espera-se da imprensa hoje e no futuro, a menos que seja para legitimar o que já está aí, pois algumas obras dele, como o Mishné Torá (Livro da Sabedoria), expõe, com clareza, a parcialidade do julgamento, especialmente quando envolve judeus e gentios. Basta verificar alguns dos preceitos ali estabelecidos, como por exemplo:
negativo 70: Que uma pessoa com defeito físico não sirva (no Santuário), como está escrito: “Quem quer que tenha qualquer defeito, não se aproximará (para oferecer o sacrifício do pão ao seu D..s)” (Lv 21:17) – Preconceito contra deficientes????
negativo 235: Não conceder um empréstimo a um judeu sob juros, como está escrito: “Tu não darás a ele o teu dinheiro sob usura” (Lv 25:37) – Diferenciação entre judeus e gentios.
negativo 257: Não constranger um escravo judeu a fazer o trabalho de um escravo, como está escrito: “(E se teu irmão… te for vendido) tu não o constrangerás a servir como um escravo” (Lv 25:39)- De novo, diferenciação.
positivo 124: Deixar para os pobres as uvas caídas do vinhedo (Lv 19:10). Com relação a todos os preceitos anteriores (120-124) diz-se: “Para os pobres e os convertidos, deverás deixá-los” (Lv 19:10); e este texto constitui seu preceito afirmativo. – O resto para o resto???
Postivo 141: Perdoar os débitos no sétimo ano, como está escrito: “todo credor que emprestou alguma coisa ao seu vizinho, deverá perdoá-lo” (Dt 15:2). – Oba, perdão da dívida…
Positivo 142: Cobrar o débito de um não-judeu, como está escrito: “De um estranho deverás cobrá-lo; mas aquilo que é teu e de teu irmão, tua mão deverá perdoar” (Dt 15:3) – Que pena, sem perdão!
Poderia escrever quase todo o texto para demonstrar que existe discriminação, preconceito, parcialidade no texto tido como modelo de justiça.
Então, não vejo que a preocupação de Rambam seja com o aperfeiçoamento da comunidade humana, mas apenas da comunidade judaica. Portanto, comparar uma ferramenta como a Internet com legislações parciais pode induzir a erro.
A Internet, que por constituição tem um caráter de não submissão às regras, poderá permitir que, de fato, haja uma democratização tanto do acesso a conteúdo, quanto da geração de conteúdo. Tanto conteúdo para entretenimento, quanto científico e tecnológico. Com isto a própria Imprensa poderá sofrer muitas alterações, pois haverá descentralização, que permitirá uma diversidade ideológica imensa e incontrolável pelos atuais donos das mídias convencionais. Por isto observamos que grupos como Time-Life, Warner etc. estão em desespero, por não saber como manter uma imprensa parcial, mas com fachada de livre e democrática, afinal é esta mesma imprensa que se diz livre.
Será que o grande desafio da nova imprensa é descobrir como manter o modelo de Maimônides numa infraestrutura tecnológica como a Internet?
Mas isto não será tão difícil assim, pois o povo quer mesmo é o pão e circo. As pessoas colocam seus filhos na escola para que a responsabilidade pela educação seja dos professores; vota em qualquer imbecil para que ele resolva os problemas da comunidade, como se assinasse uma procuração em branco. Então, por que as pessoas vão preocupar-se com a imparcialidade e ética da imprensa? A prova disto é o Jornal Nacional, continua e continuará líder isolado de audiência.
Mas espero que eu esteja errado, que a descentralização da imprensa culmine com liberdade de imprensa de verdade, e não no que vemos hoje, jornalistas e repórteres se prostituindo para garantirem seus empregos, achando que poder falar o que o chefe manda é liberdade de imprensa.
alexandre:
te encontrei no nassif e decidi aparecer.um siri na lata tentando fugir é bem interessante.
um abraço.
romério