Não falamos mais que estamos em sintonia com alguém ou alguma coisa, falamos que estamos na mesma “vibe” (vaibe).
Não mandamos mais cartas, mandamos “e-mail” (imeiu).
Não lanchamos, comemos “fastfood” (festifudi).
Não comemos cachorro-quente, mas “hot dog” (róti dogui).
Não mais pedalamos, agora vamos de “bike” (baiqui).
Não mais fritamos os miolos, temos “burnout” (burnauti).
Nas interjeições de espanto que usávamos expressões como “oh, meu deus”, “caramba”, “nossa senhora” (nussinhora em Minas), hoje é comum ouvir crianças gritando “oh, my god” (oh, mai gódi).

Nas corporações, os mais subservientes ao império falam em “budget”, “business plan”, “business case”, “networking”, “flow”, “market share”, ROI (“return on investment”), “customer care” e mais um tanto de outras “bullshit”. Frases como “não tenho mais budget para esse project” são comuns nas empresas, com um detalhe, o falante se acha superior ao usar termos estrangeiros por se sentir exclusivo em relação aos demais escravos, aliás, funcionários ou ainda colaboradores, pois esses escravos devem achá-lo superior por seu conhecimento da língua dos deuses, uma língua secreta e só para os escolhidos (isto me remete a outro assunto extremamente correlato com poder, dominação através de palavras, mas melhor deixar para depois).

De novo este comportamento das pessoas me remete ao Tao Te Ching, no capítulo 18, onde lemos:

“Quando se perde o Grande Caminho
Surgem a bondade e a justiça
Quando aparece a inteligência
Surge a grande hipocrisia
Quando os seis parentes não estão em paz
Surgem o amor filial e o amor paternal
Quando há desordem e confusão no reino
Surge o patriota”

É isso, dessa suposta inteligência superior ao usar expressões estrangeiras que não são de conhecimento dos meros mortais, fazendo essas pessoas se sentirem superiores aos demais seres, faz surgir a grande hipocrisia. É só mais uma confirmação de que essa nossa sociedade, em especial a classe média, está doente terminal. E é essa mesma classe média a responsável por manter a própria classe e as inferiores dentro dos conformes, seguindo as regras ditadas pelos senhores feudais ou deuses imperiais. Ah, sim, “compliance” é o termo correto.

A subserviência do brasileiro típico não é apenas uma bajulação para garantir a esmola nossa de cada dia, é uma questão sociocultural. Somos um povo, digo, rebanho, muito bem programado e conduzido para ser escravo completo, de cama, mesa e banho. Trabalhamos e produzimos para nossos senhores, mas também consumimos seus produtos e entretenimento, garantindo a riqueza e felicidade de nossos senhores. Ah, e também louvamos nosso patrão, ou, “god bless him”.

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