Aos cinquenta anos e às vésperas de um dia dos pais, resolvi fazer uma reflexão pessoal sobre meu pai, que está chegando à casa dos oitenta. Há trinta anos isto seria impensável, ou seja, quando meu pai tinha minha idade de hoje, eu o via apenas como um homem comum, com todas as virtudes, defeitos e, especialmente, um conjunto imenso de valores rígidos.

E o que mudou nesses trinta anos? Referente a meu pai, nada, ou quase nada, só mais rugas e cabelos brancos. Basicamente ele mantém os mesmos valores e princípios e reage da mesma forma se confrontado com as mesmas situações. Já eu, nesses últimos trinta anos, mudei muito, mas o mais importante é que mudei a forma como vejo meu pai, que não mudou. Ou seja, a teimosia dele, de tanto bater e ser dura, moldou em mim uma nova percepção. Tudo que eu via como um autoritário ditador frio e cruel, hoje eu vejo como um autoritário apenas para poder cumprir o que ele combinou consigo mesmo, ou seja, um determinado, obstinado e impecável cumpridor de seus próprios compromissos, alguém capaz de cumprir sua palavra até o fim, o que, nos termos dele, podemos chamar de Homem com H maiúsculo.

Obviamente sem fazer juízos de valores, afinal, valores pessoais são tantos quanto são os seres neste planetinha, meu pai cumpriu e ainda cumpre um compromisso que ele assumiu há mais de cinquenta anos, o compromisso e a responsabilidade de ser pai. Exatamente isso, meu pai é, de fato e de direito, um pai. Esse é o ponto que mudou drasticamente como o vejo hoje, ele é um pai. Desde que casou, em 1966, ele assumiu o compromisso de viver exclusivamente para a família, arcando com todas as responsabilidades oriundas dessa escolha, não arredando o pé nem por um milímetro. Podemos questionar sua visão de mundo, o que é certo ou errado (se há certo ou errado), seus métodos, etc, mas não podemos questionar sua capacidade de cumprir, com sucesso, a tarefa que assumiu.

Em suma, meu pai foi, é e será sempre Pai. Até hoje ele está sentado em seu trono à espera de um chamado de seus filhos, netos e até bisneto. E só gritar que ele está lá, pronto para estender as mãos para ajudar e puxar as orelhas. Ambas as coisas ele faz com a mesma determinação quando eu era moleque. Ainda sou moleque e ele pai. “Bença, pai!”

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