Apesar de pagarmos impostos abusivos, não temos os serviços mínimos necessários e combinados, como está em lei. Não há como não pagarmos esses impostos, pois está embutido no preço de tudo que compramos; não tem como mandarmos encher o tanque do carro e falar pro frentista que só vamos pagar metade porque a outra metade, que é de impostos, usaremos para pagar a consulta médica.

Essa consulta médica, que é direito universal segundo nossa Constituição Federal, é tratada pelo serviço público como um favor que os governantes abençoados autorizam e os funcionários respondem com o famoso “estou cumprindo minha obrigação”. Nos tratam como se estivéssemos ali pedindo esmola e eles, bonzinhos, nos permitem sairmos da repartição com a sensação de que somos os piores seres do planeta que atrapalhamos a vida desses seres celestiais, especialmente as autoridades benevolentes. Se quisermos uma consulta ou um exame, temos que bajular, fingir simpatia, orar, apenas para conseguirmos o que é um direito de todos, do mais pobre ao mais rico. Esse serviço não é assistencialismo social, é direito. Mas, dizer isto é malhar em ferro frio, sempre ouvimos as desculpas de que não tem verba, que estão fazendo o que podem, são as regras, não se pode fazer de outro jeito, etc.

Pior ainda nos dias atuais, em tempos de Internet, sistemas inteligentes, tudo digital, rápido, fácil e na ponta de um celular. Mas, isto não chega nos postos de saúde ou secretarias de saúde, onde as marcações de consultas estão em cadernos de papel que somem, restando ao usuário do sistema gritar para todo lado até conseguir, seis meses depois, uma consulta. Não há um banco de dados cadastral simples, um programinha besta que qualquer estudante de um cursinho técnico de informática sabe fazer. Uma planilha simples resolveria muito problema. Mas, preferem o discurso: “volte dia tal para agendarmos”. Pior ainda se a necessidade for de um especialista, pois aí é necessário voltar semanas depois para agendar um clínico geral, sair da consulta meses depois com um encaminhamento e depois ouvir a mesma ladainha e sem nenhuma informação num banco de dados, tudo em um caderninho anotado com caneta.

Ao final, uma solução. Quando finalmente a consulta for feita, depois de ter voltado umas dez vezes à secretaria para conseguir até um exame de sangue ou ultrassonografia, ou o problema foi curado pelo chá que a avó passou para gente tomar, ou a benzedeira resolveu com suas orações e ramos de arruda ou fomos a óbito. Esse é o interesse de quem comanda todo o sistema social, querem mais que o pobre morra. Disso já sabemos, o sistema está aí para manter os pobres úteis e exterminar os pobres inúteis. Pior que os pobres úteis ajudam no extermínio, pelo menos até chegar a vez deles. Em resumo, ou o problema de saúde se resolve sozinho ou o cidadão que quer seus direitos morre. E como tem gente morrendo em fila de SUS e hospital. E tudo isso porque nós escolhemos nossos governantes como se eles fossem os patrões e nós seus escravos. É o contrário. Enquanto os usuários do SUS estão perambulando à espera de uma consulta, indo e voltando de roças com estradas precárias e esquecidas, onde estão os governantes e seus servidores? Preparando-se para mais uma eleição, oferecendo festinhas para o povo esquecer quem é o patrão.

Por isso proponho a existência do atestado de óbito preventivo para evitar demoras até no sepultamento. Faz-se a via-sacra para conseguir a consulta, quando, então, o médico já emite um atestado de óbito, devidamente assinado e carimbado, faltando completar apenas com a data e a causa mortis. Daí, alguém da família do defunto termina de preencher e segue para a outra parte burra de nossa sociedade, que são os trâmites burocráticos para se dizer que um morto está morto, nos cartórios, Receita Federal, INSS, etc.

No meu caso bastará colocar a data, a causa da morte já pode completar: MORREU DE RAIVA.

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