Todos sabemos que a vida é determinada pelas decisões que tomamos frente aos problemas e soluções que brotam a cada minuto, o passado é um conjunto de decisões tomadas e encadeadas pela causalidade, o futuro é um conjunto de todas as possíveis soluções e o presente é aquela ação, ou não-ação, que tomamos e determinamos, assim, uma solução do conjunto das soluções possíveis. Tudo isso é muito bonito no papel ou em textos coloridos e animados em redes sociais para demonstrarmos que somos sensíveis, inteligentes e guerreiros (embora a palavra certa seja “babaca”). Mas, na prática, isso demonstra que em determinados momentos nos encontramos numa encruzilhada, se não numa sinuca de bico. Chegam momentos na vida em que as possíveis soluções são poucas, e quando chegam a um número muito pequeno, como duas soluções, significa que, paradoxalmente, estamos prestes a entrar num estado caótico, sem controle das condições de contorno e que a previsibilidade desaparece, como acontece comumente na natureza (sistemas dinâmicos). Ou seja, quando chegamos num ponto em que temos à nossa disposição pouquíssimas soluções, estamos à beira da catástrofe. O famoso “se correr o bicho pega, se pular o bicho come, se voar o caçador atira, se pular n´água a piranha pega”.

É óbvio e evidente que estamos vivendo um momento único na história da humanidade com essa pandemia de coronavírus associada a uma crise de valores morais, políticos, sociais e, sobretudo, econômicos. Com um agravante: há uma imensa polarização na sociedade; há quem acredite que o vírus mata muito, outros que não passa de uma gripezinha. Há quem ache que o vírus é uma ideia da esquerda e outros que acham que a direita se aproveita desse fenômeno. Fora os que acreditam que seu deus ou deuses enviaram esse vírus para salvar os escolhidos e matar os pecadores, outros que não acreditam em deus nenhum. O interessante é que, nesse momento, as opções entre esses dois “mundos” quase não existem mais, ou seja, a polarização é altíssima. Como disse acima, os estados com bifurcação evidente antecedem o completo caos, catástrofe. Mas, o termo caos ou catástrofe não se refere àquele proposto por Hollywood, com bolinhas de fogo voando, aviões dando ré no ar, e muito menos com os mocinhos e mocinhas lindos e americanos salvando o mundo. Aliás, é bem diferente disso, até porque a salvação não virá, definitivamente, de americanos.

É opinião comum que nossa sociedade está doente, todos sonham com uma vida diferente da atual, mas, contraditoriamente, muitas pessoas querem que tudo volte como era antes. Como assim? Antes era tudo uma merda, mas queremos que volte a essa merda? As pessoas querem que a pandemia passe para voltarem a seus trabalhos escravos e possam comprar coisas supérfluas ou totalmente desnecessárias, gastando recursos escassos do meio ambiente (que tem agradecido muito por esse momento de “refresco dos humanos”) e alimentando uma elite vagabunda. NÃO! Por favor, não façamos isso! Esse é o exato momento que temos para mudarmos nossas vidas pessoais e a sociedade. É doloroso e amedrontador encarar o desconhecido? Claro, mas é a chance que não teremos novamente de mudar nossa sociedade e reescrevermos nosso futuro, que estava condenado à total escravidão ou destruição.

Esse é o momento de gritarmos bem alto: LIBERDADE! É agora que podemos assumir o controle de nossas vidas pessoais, familiares e de nossas comunidades. É agora que descobrimos que não precisamos de ninguém nos controlando e mandando fazer o que eles acham certo ou errado. Não é mais hora de alguém tão longe de nós decidir o que é melhor para cada um de nós; vivemos em pequenas comunidades, ao contrário do que pode parecer. Neste momento de todos trancados em casa, fica fácil perceber que nosso mundo se resume a um pequeno grupo (um grupo de redes sociais é grande demais, até), daí essa comunidade. Está claro que são os vizinhos que nos ajudam de verdade, na hora que alguém precisa comprar um remédio ou ir ao mercado, é na base da solidariedade da comunidade que se resolve esse problema. Então, por que ficarmos ansiosos e aflitos com o que estão fazendo em Brasília, Nova Iorque ou sei lá onde? Está na hora de assumirmos o controle de nossas vidas trazendo o poder de volta às comunidades, não deixando a cargo de um poder central estúpido que está apenas garantindo seus próprios objetivos. Eles que fiquem falando sozinhos e se matando entre si. Isso não nos diz respeito de verdade. É sério que importa para nossas vidas saber que o filho do presidente é um garanhão que não pega nem gripe? Estão querendo nos manter na mais santa ignorância.

Esse é o momento de escolhermos o que é importante para nossas vidas, escolhermos o que fica e o que sai. NÓS temos que escolher, ninguém deve fazer isso por nós, muito menos uma elite de comunicação de massa que tem uma concessão pública e escolhe que devemos assistir novelas velhas e até jogos de futebol velhos. Que devemos escolher o juiz porque o capitão é bandido. Os dois, aliás, todos ali, incluindo as famílias donas das mídias, são de péssimo caráter. Então, por que nos preocuparmos com eles? Vamos nos organizar em grupos, pequenas comunidades, mas não grupos que escolhem um para mandar. Todos devem participar das decisões e ações dessa comunidade. O modelo social tem que ser diferente desse atual que todos querem que mudem, mas têm medo de mudar. Grupos autogeridos, com valores próprios que podem ser diferentes entre os grupos. Esse modelo centralizado longe de cada um de nós não é um único que existe. Dá trabalho mudar? Claro que dá, é uma questão de escolha. Sei que muitos preferem ser escravos iludidos que sonham serem senhores feudais, esses que continuem alimentando parasitas. Aqueles que buscam vida inteligente fora do sistema devem agir imediatamente. É hora de usarmos o que temos à mão para encontrarmos nossos semelhantes e formarmos essas comunidades, que podem ser as mais diversas possíveis. Não há regras, esse é o ponto. Após a bifurcação, surge um mundo de altíssima complexidade e diversidade, em oposição a essa massificação do rebanho que observamos no mundo inteiro. Que surjam grupos com características mais distintas possíveis, com uma única condição: nenhum grupo tentar impor seus valores a outros grupos, respeitar as escolhas de valores de cada grupo. Não podemos admitir mais que dementes que acham que seus valores são corretos e por isso têm o direito de matar ou torturar quem pense diferente. Já vivemos ditaduras e idade média, não precisamos mais dessas ignorâncias.

É agora ou nunca. Se você quer um mundo diferente, uma vida diferente da que tinha antes dessa imensa oportunidade aparecer para todos nós, não fique aí reclamando que perdeu o emprego, que precisa voltar para seu trabalho e sustentar seu patrão e esse sistema podre. Aproveite o isolamento para se organizar, principalmente mentalmente, para uma nova sociedade que você pode ajudar a criar. Livre-se dos conceitos velhos e podres, deixe que o ar fresco chegue até você e se dê a oportunidade de viver algo totalmente novo. Bicho que fica parado vira almoço do predador. E os predadores estão soltos e famintos! É a vez e a hora daqueles que são “metamorfose ambulante” de Raul Seixas ou “statu variabilis” de Carl Orff.

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