Essa pergunta atormenta uma parte da humanidade. Até hoje eu fico escutando o Abujamra em seu programa “Provocações” fazendo a pergunta ao entrevistado. Basta eu ficar à toa curtindo o jardim e o céu com seus movimentos, ou mesmo na lida com enxada ou roçadeira, que não exige “presença mental”, fico tentando responder o Abujamra. Apesar de achar que a morte chega sempre antes de conseguirmos a resposta, continuo tentando.

Já tentei responder até com coisas como “a eterna e inglória luta sintrópica contra a entropia” ou o aumento da complexidade da consciência universal, etc. Mas tenho tentado uma resposta metafórica mais abrangente ou compreensível. Assim, resolvi buscar na comparação com as pessoas nadando no oceano. Mas, mesmo assim, não responderá o que é a Vida, apenas com o que ela se parece.

Imaginemos toda a humanidade brotando do imenso oceano caótico que nade em direção à praia da completude e paz. A grande maioria dos seres vivos nem aprende a nadar e morre lá mesmo, em alto-mar, uns tentando pegar carona com quem aprendeu a nadar ou esperando um grande navio que os levará para terra firme chamada Paraíso, sendo que esse navio não existe. Outros seguem alguns nadadores que prometem que a salvação está no fundo do mar, basta usar algumas coisas mágicas que tudo será resolvido. Alguns aprendem a nadar igual cachorro, ou seja, apesar do imenso esforço, não chegarão à praia e morrerão no mar. Outros, melhores nadadores, apesar de exímios atletas, morrem na arrebentação, com as ondas engolindo-os sem piedade. Já os mais olímpicos atletas chegam até a praia com a sensação de sucesso, mas morrem ali; pouquíssimos aprendem a nadar o suficiente para morrerem na praia.

Acredito que uma insignificante parcela dos seres vivos descobre que só será possível sentar em terra firme e curtir uma água de coco e um belo por de Sol se aprender a voar, não a nadar. Isso mesmo, apesar de estarmos no oceano, o que devemos aprender é a voar (isso significa que não é pelas dimensões usuais de tempo e espaço que se consegue a vida, mas buscar outros planos dimensionais). E talvez descubra-se apenas que não existe nem água de coco, nada além da própria consciência. E para voar devemos ser leves, soltos e desapegados do ambiente marítimo, não nos prendermos à ilusão de que precisamos dos peixes e da água para viver. Precisamos de um corpo e mente leves o suficiente para alçarmos o voo em direção à praia da liberdade. Creio que seja extremamente fácil voar, difícil é soltar as malas e bagagens que carregamos e especialmente difícil é soltar aqueles que não sabem nadar e que acabam por nos fazer afogarmos juntos. Em resumo, viver é, para a imensa maioria, nadar, nadar e morrer antes mesmo de chegar à praia.

Antes de aprendermos a voar, precisamos aprender a esvaziar as malas, jogar fora todo aquele lixo de pensamentos, coisas, pessoas e fantasmas que acumulamos por alimentar o ego e desejos supérfluos e fúteis. Diminuir os pesos físico, mental e espiritual, deixar de querer controlar todas as situações que não nos dizem respeito, buscar o único poder que realmente importa, o poder de controlar a si próprio, nada além disso – o poder do silêncio e da invisibilidade – fácil no início da jornada, mas fica cada vez mais difícil ao longo do tempo. Deixemos de lado quem quer nadar e se divertir nas águas que os mestres do Universo insistem em nos mostrar que é bom e certo, nos afogando. Quem quiser ficar com a planejada polarização da vida política, que fique. Quem quiser ficar com o futebol, shows de músicas sem artes, churrascos e putas, que fique por aí e morra afogado em mágoas, culpas, frustrações, dores e impotência.

Eu quero voar! Ainda não sei exatamente como se faz isso, mas estou certo de que não é fazendo o que fiz até hoje, nem obedecendo as ordens e regras que os fracassados do sucesso aparente nos impõe. A busca por dimensões além-mar, além das observáveis fisicamente, é necessária, mas não podemos nos iludir achando que isto tem relação com religiões, seitas, deuses ou salvadores milagreiros; estas ilusões servem apenas como um peso preso em nossos pés, nos afundando mais rapidamente. As ilusões apenas aceleram nosso afogamento quase inevitável. A liberdade custa cada vez mais caro à medida que o tempo passa, mas é um preço pagável por qualquer um, o preço das bagagens e bagulhos que insistimos em carregar. Já nascemos com as asas, mas nos fizeram acreditar que eram nadadeiras. Quem sabe o que e quem encontraremos além da praia…

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