Um Ano Após o Incêndio em Vimarânia

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set 152018
 

Está para completar um ano do incêndio que queimou cerca de 1.600 hectares na região entre Soledade de Minas e Conceição do Rio Verde, sendo que meu sítio estava no caminho deste fogo criminoso. Veja mais sobre o incêndio neste texto. Mas, o que temos de novidade neste tempo? O que aprendi com este episódio?

Como dizem, aprendemos muito em situações críticas ou de catástrofes. Desde coisas simples relacionadas ao próprio trabalho no campo, prevenções de outros tipos de catástrofes, até sobre o comportamento humano, individual ou social. Na prática pude perceber que, de fato, braquiária adora fogo, como já diziam os roceiros; pouco tempo depois do fogo, mesmo antes das chuvas chegarem, a braquiária rebrotava com um vigor invejável, bastou a chuva para que eu tivesse um pasto bem formado, apesar de estar com as cercas queimadas, ou seja, um pasto que serviria para gado de todos os vizinhos. Aos poucos as cercas foram levantadas, de forma simplória, apenas para evitar o passeio ou perda de gado de vizinhos. As cercas ainda estão meio capengas, mas o pasto realmente ficou formado.

Nem tudo foi recuperado, algumas mangueiras ainda não foram substituídas, moirões ainda estão faltando, hortas e pomares não foram todos replantados. Mas os animais estão bem, especialmente as cabras e ovelhas, que, mesmo com a seca, estão com bom pasto à disposição. Uma coisa ainda é difícil recuperar, o sentimento de tranquilidade da roça; basta uma fumaça longe para reacender o medo de ver tudo ardendo, ficamos olhando para todos os lados para ver de onde vem a fumaça. Uma coisa positiva neste episódio foi perceber que ainda existe solidariedade de algumas pessoas, como foi o caso do Prefeito de Conceição do Rio Verde e do secretário de agricultura, como já disse neste texto. Enfim, apesar de todas as dificuldades provocadas pelo incêndio, é sempre possível recomeçar e estamos no caminho para retomar a produção, ainda com algumas dúvidas, mas nada que seja um impedimento decisivo.

Entretanto, algo incomoda absurdamente neste episódio: saber quem colocou fogo e não poder fazer nada. Sim, foi possível identificar a pessoa criminosa, tanto por cruzamento de informações quanto declarações de vizinhos em Soledade de Minas que viram. Mas, quem viu não quer declarar oficialmente, alguns me falaram porque não sabiam quem eu era, contaram o caso do incêndio, outros me falaram abertamente que não podem fazer nada. Tudo isto porque o incendiário é uma pessoa supostamente acima de qualquer suspeita, de família conhecida, é uma pessoa que declara princípios preservacionistas, ecológicos e éticos e acabou sendo vítima da própria estupidez. Assim, além dos prejuízos materiais e psicológicos que não poderão ser ressarcidos, os animais mortos, como o lobinho e pássaros aos montes, os ipês e candeias em recuperação e os cursos d´água assoreados não poderão voltar à vida ou ao normal. Tanta perda e ninguém pagará por isso, realmente vivemos tempos de impunidade para as elites e ascensão de seres inferiores, como disse neste outro texto.

Resta-nos, portanto, a resignação ou teimosia em continuar sonhando e a resiliência (palavra tão em moda) para suportar as envergadas que a natureza nos força ou as porradas que a estupidez humana nos dá.

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Agradecimento ao Prefeito de Conceição do Rio Verde

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out 202017
 

No dia 23 de setembro, o sítio Vimarânia foi atingido por um incêndio criminoso, como relatei aqui (http://www.vimarania.com.br/site/?p=141). Após essa destruição ambiental, de produção e infra-estrutura, recebi ofertas de apoio de diversas pessoas, públicas ou não, para me ajudarem com mudas, mangueiras, cercas e até mutirão. Enquanto isto, fui à Prefeitura Municipal de Conceição do Rio Verde e pedi ajuda para recomeçar, afinal eu nem sabia por onde recomeçar, e ainda estou meio perdido, é verdade. Solicitei a motoniveladora para refazer a estrada que tivemos que destruir para fazer aceiro e evitar que o fogo chegasse na casa de um vizinho e o trator agrícola com uma grade para preparar uma pequena área para que eu pudesse recomeçar com alguma plantação.

O Prefeito interino, Pedro Paulo, que assumiu a prefeitura após a impugnação da candidatura vencedora, atendeu prontamente minha solicitação e já enviou o trator agrícola. Agora tenho uma área para plantar um pouco de milho, feijão, umas mandiocas e recomeçar um SAF (Sistema Agroflorestal), muito trabalho para pouco braço. E ele disse que a motoniveladora chegará em breve.

O interessante nesta história é que o Pedro tem feito muita coisa na cidade, especialmente nas regiões menos favorecidas. Apesar da interinidade, ele tem atendido muitos pequenos produtores, muito diferente do que aconteceu na gestão anterior, quando os tratores da Prefeitura estavam sempre nas fazendas que têm tratores próprios. No meu caso específico, fiquei quatro anos pedindo pessoalmente e até por ofícios que a motoniveladora viesse arrumar as estradas da região, que estavam em condições extremamente precárias. Só apareceu em setembro de 2016, às vésperas das eleições e mesmo assim não entrou no meu sítio nem chegou em dois vizinhos. Mas passou dentro de fazendas de gente importante fazendo até pátio. Não chegou no meu sítio por pura pirraça, afinal, é notório que eu não votaria no então prefeito que era candidato à reeleição. Mas, não é isto que interessa. Interessa que parece que ainda existem políticos com vontade de fazer alguma coisa para a sociedade, não apenas para os amigos e si próprios.

Assim, preciso ser justo, se falei do ex-prefeito e de sua absoluta falta de atenção com o povo, tenho que falar da presteza e sensibilidade da atual gestão. Apontar os defeitos é fácil demais, por isto precisamos apontar as qualidades também. Portanto, quero registrar publicamente meus sinceros agradecimentos ao Pedro Paulo e também ao tratorista Luiz, que fez seu trabalho com empenho e cuidado. Espero que o Pedro continue este trabalho, nesta linha, e não caia nas teias dos parasitas que sempre aparecem quando o bolo é doce e farto.

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Incêndio em Vimarânia

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set 292017
 

Sábado, dia 23 de setembro de 2017, um incêndio iniciado dias antes aproxima-se do sítio, pela parte alta, que estava em franca recuperação de cobertura vegetal, por mais de 8 anos sem ver uma foice. Eram candeias e ipês em grande quantidade, fora cedros e outras em menor quantidade. Algumas fotos abaixo mostram como estava horas antes do fogo atingir. O fogo foi iniciado, supostamente ou legalmente, por duas menores que assumiram a culpa, embora havia um rapaz maior de idade entre eles.

Tentamos apagar esse fogo antes que atingisse o sítio, dado que pela condição da pastagem seria como gasolina, pois mantemos inclusive a pastagem alta para manter a umidade o maior possível, especialmente nesta época de seca, que foi prevista no início do ano como pode ser lido neste post: (http://www.vimarania.com.br/blog/?p=437).

Os danos provocados foram absurdos, desde os ambientais com a morte de árvores e animais, incluindo um filhote de lobo-guará (será objeto de outro post), passando pelos estruturais, como cercas e mangueiras de captação de água (+- 1200 metros), até os de produção agropecuária, como pasto de cabras, áreas de cultivo de hortaliças, pomar e um início de SAF (sistema agroflorestal) com mudas de nativas e frutíferas. Restou a área da casa. Foram danificadas as estradas por conta de aceiros para evitar que atingisse a casa de um vizinho, que tem capineira ao lado da casa.

Resta-nos dar a volta por cima, após o susto de ver chamas imensas aproximando-se da casa. Não temos tempo para lamentações, apesar de volta e meia bater aquela vontade de colocar uma mochila nas costas e ganhar o mundo. De concreto, encontramos apoio de alguns amigos que estão se propondo a ajudar com mudas novas e até um mutirão para agilizar a recomposição de matas, especialmente as ciliares e de topo de montanha. Outros estão se organizando para tentar arrumar algumas mangueiras para a captação de água, pois nesta seca estúpida é impossível plantar qualquer coisa sem irrigação. Tivemos também a promessa da Prefeitura Municipal de Conceição do Rio Verde em enviar uma motoniveladora para refazer a estrada e um trator agrícola para gradear uma área, assim poderemos plantar um pouco de milho, feijão, etc. para ajudar na recomposição do solo e garantir alimento para os animais.

Aproveito o post para agradecer aos amigos e parceiros, o pessoal do Corpo de Bombeiros de Três Corações e de São Lourenço (o sargento Romualdo e cabo Lucas), sendo que estes estiveram no sítio sábado à noite quando o fogo chegou próximo à casa junto com a Defesa Civil de Soledade de Minas, Rognaldo Freitas, que conta com uma equipe de voluntários para este tipo de trabalho – sim, ainda existe gente que faz trabalho voluntário para ajudar o próximo. Não posso esquecer dos sempre presentes familiares, como meus filhos, neto e noras, mãe e pai, que nessas horas se mostram nosso porto seguro.

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Um Sonho Toma Forma

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abr 122016
 

Apesar dos contratempos, das dificuldades, das oposições, indiferenças e desejos incontidos de fracasso, um sonho toma forma e poderá ser compartilhado com as pessoas que também sonham em mudar suas vidas, encontrar novos caminhos para acessar a felicidade, tanto individual quanto coletiva. Neste período turbulento de nossa história, o livro “A Caminho da Roça – Do Mundo da Alta Tecnologia para a Simplicidade do Campo”, de Alexandre Faria Guimarães, vem mostrar que existem alternativas para uma vida com mais sentido, mais produtiva e mais feliz, simplesmente.

Neste 10 de abril de 2016, o livro foi lançado de forma alternativa numa banca de livros artesanais no centro do poder econômico do país, na Avenida Paulista, perto do MASP. Na ocasião, Alexandre esteve presente junto com o editor e impressor, Ernesto Kramer da PrintLeaks Microtiragens Artesanais. Foi nesta oportunidade que os dois se conheceram pessoalmente, eram apenas virtuais amigos. Essa amizade por ideias permitiu a sinergia para a produção do livro. Mas, não só uma amizade virtual permitiu isto, uma amizade antiga, daquelas incondicionais e com mais de trinta anos, também permitiu que este livro ganhasse o papel; o compadre de Alexandre, Luiz Otávio Barcellos Montes, o Pureza, colaborou significativamente para o evento.

O método alternativo de impressão e lançamento tem tudo a ver com os princípios que Alexandre propõe para os produtores e consumidores dos produtos da roça, a ação local e descentralizada, a valorização dos pequenos e a agregação de valores aos produtos oriundos das pequenas propriedades rurais, em oposição a um sistema de produção em massa, centralizado em grandes corporações. É coerente com a proposta do livro que fala de estigmergia, o trabalho individualmente consciente, mas com efeitos coletivos e sociais claros, sem a gestão centralizada; é o trabalho de formiguinha capaz de mudar a sociedade. Além de o livro contar o que leva uma pessoa a abandonar empresas e negócios, os confortos desnecessários de uma vida nas cidades; as dificuldades, os prazeres e sonhos e as buscas pessoais. O livro é um texto confessional, mas que pode trazer resultados práticos para novos métodos de relacionamentos entre produtores e consumidores, usando métodos agroecológicos de produção, com preocupações ecológicas e de sustentabilidade.

Alexandre, que foi consultor de tecnologia por mais de vinte anos, deseja, além de produzir alimentos de forma agroecológica no Sítio Vimarânia, no Sul de Minas, compartilhar essa experiência e discutir essa proposta de redes de cooperação estigmérgica através de palestras e encontros em empresas, eventos e organizações interessadas em fomentar esse debate. Interessados devem entrar em contato através do e-mail: contato@vimarania.com.br.

ernesto-euErnesto e Alexandre na Av. Paulista (clique para ampliar)

São Paulo, 11 de abril de 2016